Séries ou Seriados?
Um Mês em Hell's Kitchen
Contém spoilers!
Que mês foi abril para a Marvel. O lançamento de Vingadores: Era de Ultron era um dos mais aguardados do ano, e não desapontou. Entretanto, a Marvel também conseguiu chamar a atenção (e muita) no mundo das séries. Quem ainda não tinha Netflix com certeza ao menos cogitou assinar. A parceria Marvel-Netflix se mostrou um sucesso estrondoso com Daredevil. Após o polêmico e "esquecível" filme de 2003, com Ben Affleck no papel principal, a história do herói de Hell's Kitchen finalmente ganha o tratamento que merece.
Realismo é a palavra certa para definir a série. Entre tantas séries de super heróis estourando por aí, como Flash, Arrow e Gotham (representando a DC Comics), Daredevil deu o tom adulto ao gênero, até sendo mais policial do que uma série de herói propriamente, em diversos momentos (especialmente porque já há sangue o tempo todo na tela). O piloto já deixa isso bem claro, sem enrolação e direto ao ponto sobre quem é Matt Murdock e o que ele faz. Nada de histórias de origem, apresentação de variados personagens e uma vida normal antes de se tornar um "vigilante". Um rápido flashback nos mostra o que aconteceu com o garoto de 9 anos que ficou cego e, rapidamente, já somos levados à ação noturna e a vida de advogado durante o dia. É fácil perceber também que a cidade está tomada por gangues e a corrupção rola solta. Ambiente mostrado, vamos, ao longo dos acontecimentos, descobrindo quem é quem. Ah sim, antes de terminar, aquela sequência básica de rotina das partes envolvidas com uma empolgante música para imediatamente criar o gostinho de "quero mais": Matt treinando, bandidos sendo bandidos, etc. Fim do piloto.
"Quero mais". Eis que entra a questão Netflix. Tenho orgulho em dizer que pertenço à geração de seriadores que acompanhavam uma temporada por ano, um episódio por semana, de aproximadamente 40 minutos, e muitas vezes, vistos pela TV a cabo (tempos que Lost e CSI dominavam as grades). Mas os tempos mudaram e hoje surge o conflito provocado por novas plataformas, como a nossa querida Netflix. No dia 10 de abril, estreia da série, foram liberados, de uma só vez, TODOS os episódios da temporada, que variam entre 50 e 60 minutos cada. Sim, isso já havia sido feito com House of Cards, por exemplo, mas pessoalmente, tive essa experiência pela primeira vez. A temporada é mais curta: 13 episódios. E quando você vê o piloto, já logo quer ver o próximo, e o próximo, e o próximo... claro, a qualidade não poderia ser melhor e, justamente, por isso a quantidade reduzida de episódios (vide Arrow que, com pouco mais de 20 episódios, arrasta sua atual 3a temporada, bem fraca). A estratégia funciona, mas coloca o seriador no dilema: ver tudo de uma vez e depois sofrer pela falta, ou tentar, a muito custo, ver um episódio por semana? Dosar séries da Netflix acaba se mostrando um dos grandes problemas contemporâneos. Pessoalmente, preferi tentar dosar e terminei em quase um mês. Sim, já está fazendo falta...mas comemoremos o fato de que a série já está renovada para uma 2a temporada.
Outra estratégia que deu muito certo é uma já bem conhecida, desde o Superman da década de 1970, até recentemente em Batman Begins (2005): colocar um ator relativamente novo no mundo artístico, um tanto quanto desconhecido, para o papel do protagonista, e cercá-lo por rostos já conhecidos do público, como Vincent D'Onofrio no papel do famoso Rei do Crime/Wilson Fisk. Pois é, ele realmente mudou para fazer o personagem, sempre conhecido por Law and Order e recentemente visto em O Juiz (2014), ao lado de Robert Downey Jr. Bob Gunton, como Leland Owlsley, também teve sua contribuição, ator já experiente que tem em sua filmografia títulos como 24 Horas e Patch Adams (1998). Charlie Cox surpreende. O jovem ator britânico demonstrou grande dedicação ao papel (claro, não é todo dia que você tem a chance de ser um astro da Marvel), fazendo intenso treinamento de artes marciais e contratando um consultor cego, para estudar seus movimentos. Agora você percebe que provavelmente já o viu por aí, como em Stardust (2007) e em A Teoria de Tudo (2014). E há quem esperou por uma rápida aparição de Murdock em Era de Ultron esse mês nas telonas, o que seria sensacional, já que a série está repleta de referências ao primeiro Vingadores. Mas acredito que a Marvel não quis arriscar tão cedo e preferiu analisar o sucesso e alcance que Daredevil teria. Cox tem no contrato a possibilidade de participar de qualquer outra produção da Marvel Studios. Enquanto não chega Os Defensores (série que irá unir Daredevil e mais outros 3 heróis, ainda com séries a serem lançadas, também pela Netflix), ficamos na expectativa por alguma aparição ou referência, quem sabe na Guerra Civil, já que o Capitão América é um herói mais urbano, diferente da temática dos Vingadores, que está se aproximando mais de Guardiões da Galáxia do que voltando pra Terra.
A ambientação urbana de Daredevil, aliás, é um dos charmes da série. Amantes da cidade de Nova Iorque e do gênero policial receberam um prato cheio. Se você assiste aos episódios a noite, fica melhor ainda. Nada de momentos e dias leves, como em Flash. A tensão está presente a todo momento, aliviada apenas por rápidas falas ou ações um pouquinho descontraídas. Dá-lhe Foggy Nelson, o alívio cômico da série, mas que também faz um bom drama, como visto no 1x10. Aliás, vale citar alguns episódios que, pessoalmente, se destacaram. Após o ótimo piloto, o 1x02 manteve o nível e mostrou que a série não veio para perder tempo. Matt já surge quase morto, jogado em uma caçamba, e logo conhecemos Claire, a fofa enfermeira que faz plantões especiais para nosso herói. Esse episódio consolidou a seriedade do show, apresentando grande realismo, emoção e cenas de luta sensacionais. "Mas ele é cego e faz tudo aquilo, onde é realista?". Dentro do universo de Daredevil, obtemos algumas explicações sobre o treinamento de Matt no 1x07, através de Stick. Os flashbacks, aliás, se destacam por não serem constantes, inseridos exatamente quando necessários. O 1x08 comprovou isso, quando conhecemos a história de Wilson Fisk. O 1x09, então, uniu, pela primeiríssima vez, os antagonistas que conhecemos melhor nos dois últimos episódios. Tensão máxima nos momentos em que dividam a cena, primeiro na galeria de arte, como Matt Murdock e Wilson Fisk, e depois a noite, como Daredevil e Rei do Crime (apesar dos nomes ainda não terem surgido). Após mais uma quase morte do nosso herói, seu melhor amigo surge para ajudar, ao mesmo tempo que descobre o seu segredo. Com a amizade ameaçada, nada melhor que sabermos um pouco mais da bacana história dos dois amigos, desde a faculdade.

O tema principal dessa temporada se resumiu bem nesse 1x10: os limites entre bem e mal, certo e errado. As conversas de Matt com o padre geralmente consistem nas melhores cenas para reflexão, e para realmente entender esse herói. A briga com Foggy, mesmo que irritante, foi compreensível. Então, após algumas mortes, tristes como a de Ben, e surpreendentes como a de Wesley, tudo se resume ao confronto final, o melhor episódio dessa primeira temporada: Daredevil. Simultaneamente, temos as consolidações do vilão e do herói. Fisk teve 2 cenas memoráveis: o pedido de casamento à Vanessa enquanto é levado pela polícia, e sua fuga do comboio que o transportava. Após a primeira batalha definitiva dos antagonistas, Fisk veste branco, em referência clara aos quadrinhos. O visual provisório de Matt deu lugar à uma estranha "roupa oficial" (preferia a preta), e agora o herói de Hell's Kitchen já estampa as capas de jornais. Para além da ação, foi ótimo ter o retorno do trio Foggy, Karen e Matt. Já rolam apostas no campo romântico sobre isso...
A nota no IMDB está bem coerente, para quem curte estatísticas: 9,1. Resta agora rever, especular e continuar atento ao Universo Marvel. Que venha a 2a temporada, dos nossos "abacates" da lei, e do nosso herói de Hell's Kitchen.
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